Para estas reflexões, optei por
analisar o capítulo 5 (O homem cordial) da obra Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, de 1936, mas ainda
atual, e alguns trechos e ideias centrais do livro Por que as Nações Fracassam – As origens do poder, da prosperidade
e da pobreza, de Daron Acemoglu e James Robison, de 2012. Aliado a isso,
procurei contextualizá-las com a realidade em que vivemos hoje.
Sérgio Buarque de Holanda (2013, p.
141) descortina o assunto: “O Estado não é uma ampliação do circulo familiar e,
ainda, menos uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades
particularistas, de que a família é melhor exemplo. Não existe, entre o círculo
familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma
oposição.”
Então, prossegue: “No Brasil,
onde imperou, desde tempos remotos, o tipo primitivo da família patriarcal, o
desenvolvimento da urbanização – que não resulta unicamente do crescimento das
cidades, mas também do crescimento dos meios de comunicação, atraindo vastas
áreas rurais para a esfera de influência das cidades – ia acarretar um
desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje.” (2013, p.
145)
Fica evidente a crítica do
historiador ao papel da família, que, no Brasil, enquanto instituição
influencia o modelo de Estado que vigorava no Império e, ainda, hoje influencia
o nosso Estado, haja vista algumas regiões, onde há o patriarcalismo e, por
outro lado, as relações homofóbicas oriundas também da religião, que discrimina
o próprio semelhante.
Sérgio Buarque de Holanda, assim,
afirma: “Não era fácil aos detentores das posições públicas de
responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção
fundamental entre os domínios do privado e do público.” (2013, p. 145)
Resta claro mais uma vez aquilo
que desde aquela época já se verificava a confusão entre o público e o privado
e o que torna esta obra ainda atual.
Ao tratar do “homem cordial”, na
realidade, este é o contrário da polidez. É na verdade um mecanismo de defesa
do homem ante a sociedade. Sérgio Buarque de Holanda critica a forma como
ocorre o ritualismo no Brasil em comparação com o Japão. Os cultos religiosos aqui
não seguem os ritos como no Oriente e isso afeta, até mesmo, a vida cotidiana.
(2013, p. 147-151) Na nota de rodapé, o autor afirma que a inimizade pode ser
tão cordial quanto a amizade.
Percebemos da leitura que nossas
instituições no Brasil são influenciadas pela cultura do “homem cordial”,
daquele que recebe uma educação familiar patriarcal, que o torna dependente, engenhoso,
com subterfúgios e preconceitos.
A outra obra Por que as Nações Fracassam possui como tese central o fato de que
são as instituições de um Estado que determinam sua prosperidade ou pobreza.
Assim, instituições políticas e econômicas inclusivas determinam o
desenvolvimento da nação. Enquanto isso, instituições políticas e econômicas
extrativistas determinam o seu declínio. Certamente, poderá haver variações:
parte inclusiva e parte extrativista – o que determinará os rumos do país.
Os autores descartam as
influências geográficas, culturais e de ignorância de seus líderes. Acreditam
que de fato o que determina os rumos do país são suas instituições. Aqui
discordo, em parte, pois acredito as influências culturais são determinantes,
inclusive, no rumo das instituições, assim como apontou Max Weber, em a Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo e o próprio Sérgio Buarque de Holanda na obra em análise.
E é aí que as duas obras se
chocam. O espírito do “homem cordial” determina as instituições brasileiras,
onde podemos assim falar as raízes do Brasil. Fica determinado as relações
interpessoais que regerão as instituições políticas que determinarão as
econômicas.
Isso ocorre desde o âmbito
familiar até as altas esferas de decisão do poder político. No Brasil, temos
direitos políticos, liberdade de expressão, acesso a Justiça, etc? Em parte. As
instituições funcionam relativamente. Para abrir uma empresa é um parto. A legislação
tributária e trabalhista é confusa. Enfim, as instituições funcionam, porém
poderiam funcionar melhor.
A raiz do problema no Brasil está
na colonização, quando se firmaram instituições extrativistas que só serviam
para explorar o povo e a terra. Isso perdurou por anos e gerou reflexos até
hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário